quarta-feira, 27 de novembro de 2013

  


Nunca mais vou passar
seu colarinho...
decifrar suas perguntas,
ignorar seus conselhos,
desdobrar seus panos,
secar seus segredos,
chamá-lo de amor...
sorver o suor do bico dos seios,
nunca mais chupar seus dedos,
encostar me rego
em seu peito nu.
Nunca mais ouvir insultos
durante o sexo,
nunca mais o sexo,
nunca mais, amor

(pranto mudo, desenfreado).


   photo: kiko nazareth














seu cão

nesse reino acolhedor, os teares sem uso,
os talheres desfalcados,
um cão que se confunde com a lã, olhos imensos,
mas meus dedos pequenos e impotentes,
tal qual um monte de orfãos, não podem salva-lo...

fragmentos de casas e viagens interestaduais,
um tio em cada canto do seu coração, todos de segunda mão.
Na lista com nomes e sobrenomes, ninguém sabe quem somos,
só seu cão, aquele que parece um novelo de cabelo,
olhos de botões,...
sou um antigo tear sem uso... tocado pelas mãos de algum desatento,
sou orfão do tempo, dos irmãos, orfão de orfãos...

photo: kiko nazareth



O FIM DE QUASE TUDO
Conheço os sonhos alheios, 
são meus pesadelos em cabeças espalhadas por aí,
e todas as noites, barulhos e passos no sótão, 
goteiras, 
é o passado, 
e
a solidão com sua tonalidade morta. 
Cumpria uma promessa, um juramento de nunca desafinar, e cantar...
por que agora, parece impossível seguir surdo?
Não vimos o fim da corda chegar, o fim de quase tudo.
Achei que conhecia rezas, terços, crucifixos, até colecionei rosários 
e flores dentro de livros robustos, no fundo de uma gaveta em especial, enroladas em uma fita de veludo, guardei cartas e fotos desbotadas, que já não suportam mais estar lá...
Achei que sabia amar, mas nada nos levou ao desconhecido.




T   Ó   X   I   C   O


...ocuparam os espaços mais bonitos,
sobraram os ralos
e um lodaçal mal cheiroso, os surtos,
sobraram as rinhas,
um punhado de dinheiro,
um varal de roupinhas de bonecas,
curtos-circuitos,
televisão em rede aberta,
missas em idiomas e um cheiro de adeus
vindo do outro lado de um muro a ser construído...


Batismos com os tios, as fotos,
as montanhas, os rios.
Sobraram as lembranças mais bonitas,
duas alianças, duas, um relógio,
um terço, alguns livros...nada mais.

Venha ver,

deixei aqui

minhas impressões digitais.













 .d e d a l

Seria seu por um dia, só para alegrar o meu outono;
Mas prefiro estar nos seus sonhos,
na linha que você não leu,
no dedal que você não perdeu e
que busca feito sonâmbulo
desarrumando
o que já não tem mais
jeito...










Beijo  sem  língua


PASSE comigo,
Algumas horas,
Os verões duram
Minutos apenas
Quando estou com você.
A sua lembrança
É como a casca
De uma lagarta,
Como um beijo

Sem língua...                                                                

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