o cisne

Você quer todas as tonalidades

Da sua cor favorita

Mas o dia curto e a pele incerta

Afugentam a magia;

Cai a escuridão.

Você quer o galope do cavalo dele

Tranquilizando a sua tarde,

Mas o que se ouve

É o canto sombrio de um cisne

Seguido por um trovão.

Você quer as sombras e a chuva;

Você quer estar em sua cama,

Em seus braços

Mas ele não vem;

Você quer morrer de paixão,

Procura uma corda,

Pendura-a em uma varanda da casa,

Realiza seus ritos,

Mas pensa: “ainda não”...

photo: kiko nazareth

d o r m e     c o m i g o

enjoava não, aquele cheiro

era perfeitamente agradável,

e aquele rabisco no papel

parecia uma sujeirinha,

tentei tirá-la,

não saiu

...

Faz carinho nas costas.

Abraço antes de dormir.

A respiração

é a música noturna

de quem dorme junto.

photo: Kiko Nazareth

Suicídio

Tormenta,

É como uma tormenta,

Parte da noite,

Um terço da cama,

É como um alento,

Quando a escuridão aumenta;

É como um auxílio,

E meus pulsos nunca serão os mesmos,

É como seu amor escorrendo

como água quente,

Mas é no fundo

Resultado de uma noite atormentada

Pela tua ausência.

photo: Kiko Nazareth

ESPERO

espero que você tenha irmãos,

todos bons,

e ainda que não, todos irmãos o suficiente,

com ou sem dons, todos gente,

espero que você tente

através de todos os sons,

aceitar todos

os seus irmãos

e querê-los profundamente,

mesmo os não tão sãos e os não tão bons...

                                                        photo: kiko nazareth

a cura

uma cura pode levar uma vida, o caminho, de estancar o sangue, esse encontramos de noite, de tarde, em uma leitura, em uma conversa, minha amiga, estenda sua mao...

Miian (ANAMBÉ)

uma bruxa me disse um dia:
duas almas não se encontram por magia,
não é força do destino, é teimosia,
disse que amor é o dia-a-dia,
que segue, segue, atravessa o espaço,
paixão é o beijo, amor é o abraço,
o tropeço por sobre o cadarço.
a água em terra de sol minguado e escasso,
e mesmo assim voamos sem pousar,
e o medo de não conseguir andar
nos interrompe, nos faz voltar,
ao amor, que é no fundo, acompanhar...

deus de lama

Lã que veste a trama,

Desfaz, conquista

o bem que um nó esconde.

Sob o traçado, sob o bordado

Ouço meu nome.

E nas ondas e no estalar dessa fogueira, que também me chama...

E a solidão que das velas dos barcos à deriva, despenca,

Sobre quem realmente nunca se ama.

Correnteza maldita e dádiva de um deus de areia e lama,

Esquecido e voraz.

Cumprimos nossas tarefas em um planeta de rivais, e cruéis.

Silêncio que é ungüento, descanso na ponta de uma agulha, que esquece o que a 

lã desfaz.

photo: kiko nazareth

aldeia




seu mar me desconcerta,

me cura, me cerca,

alarga minha mente, me toca,

se estreita em córrego;



e em vala, em poça, se aperta um rio,

me apressa, me inunda,

meus pés tocando a terra, junto a ele,

eu fujo, corro da ira que açoita

e sopra nossa aldeia perdida,

desfaleço, quase morro;



a lagoa eu avisto, evito, sobrevôo,

é lá meu porto, meu berço,

amo minha alma de areia,

quase vidro, quase água;

seu riso me aquece, me entoa e me bebe,

sempre acalanta uma eterna última ceia;



o tempo já não se despede, não mais se detém,

ninguém mais nos vê,

nem segue, o vento vem;

o mar, o rio, a lagoa, eu e você.