terça-feira, 29 de setembro de 2015


POESIA IMENSA

eu quero um poema pueril
escrito para ninguém ler,
mas se eu sinto dor, se grito,
esse é um poema aflito, esse não quero escrever;

e quando ninguém escuta, ou se estão mortos,
eu canto em forma de reza e de lamento,
no escuro, sem trovão, lembro e quero lembrar:
é o poema cicatriz ou a prece do esquecimento;

Sabe?
um andarilho enterrou no centro da Terra,
um coração puro; e é o tesouro do mundo,
deixou também um mapa escrito em prosa,
com métrica que provoca náusea nos fortes,
zomba da muralha mais poderosa,
escavado no livro de todas as mortes...

...muitos alegam não ser poema,  
chamam de esquizofrenia, de dança,
dizem que não deixa nada de pé,  
outros juram ser poesia imensa, 
que não poupa um ser sequer.


ORAÇÃO



toda reza conserva, todo olhar reserva
uma história, um paraíso;
toda rua termina, toda dor tem final,
e, em cada esquina, em cada sinal, uma criança vende sua alma;
todos os guias trazem, secretamente, tudo o que tu precisas,
mais do que há em cada berço de ouro, 
mais do que há em cada terço, 
em qualquer rosário, em qualquer forjadura;
e virá redenção, quando o que ouvirmos for perdão, 
em tudo quanto disseres;
perdão, penitência divina,  oração vespertina ao sol, 
para cada confissão, perdão para os que nunca foram felizes.

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