M e i a H o r a
Meio amor
fizemos,
Veio, meio inteiro,
o meu amor.
Eu disse não,
em parte,
disse sim
integralmente.
Veio o meu amor,
por meia hora...
deitou-se
em cama de solteiro;
meu coração chora
por um amor inteiro.
intercontinental
Fecha
os olhos e imagina
as
águas entre os estreitos caminhos
formados
pela mata seca num pântano da Flórida durante o verão...
E
o vento trepidando
morno,
e
trepidando;
Agora
dorme e acorda com
a
cabeça nas alturas das paredes
de
um cais em Veneza, daqueles
que
nossos sonhos visitam para furtar
detalhes
barrocos
e
lembranças ancestrais... e o vento,
sempre
o vento.
Verás
como em ti despertará a
sensação
de haver burlado o tempo,
só
para cair de volta no colo do destino.
este
poema para ti
Eu
quero escrever e escrever
como
se o tempo não existisse,
assim,
tocando teus lábios
com
a minha esferográfica.
Quero
aprender a ver teu sorriso
ao
piscar meus festivos olhos apaixonados
que
guiam as palavras que escrevo
por
que me inspiras.
Quero
abraçar tua simplicidade
e
sentir o calor que quero de ti,
assim,
beijando teu corpo
com
o meu poema.
Eu
quero deixar este poema
e
viajar pelo tempo,
esperando
que a felicidade e a lembrança
me
provenham a força.
Eu
quero viver este momento
esperando
que a poesia
me
legue verdade
em
tempos onde a realidade
não
existirá.
Eu
quero rezar pela convicção
enquanto
estiver sendo consideravelmente
equivocado...
para
então,
através
do amor,
ganhar
teu coração.
photo: kiko nazareth
ANJOS
A chuva está caindo e os anjos estão caindo, e eu... Bem, devo ser breve como a chuva, eu estou partindo. Não tomarei muito do seu tempo contando uma história triste, mas serei um precioso instante, nessa noite chuvosa... uma gota, um pingo, uma pluma caindo, da asa do seu anjo preferido. Serei breve como a chuva, um instante infindo, e já haverei partido. Vivi em seus sonhos e com razão vivi sorrindo, flertando, voando... Vivi como um anjo, reinventando o amor. Hoje, se parto completo, levo daquilo que você não verá. O mundo estará preciso, perfeito, como sempre foi. Anjos seguirão desfilando embriagados pelos vivos; você será forte, e mais tarde, quem sabe?
Um anjo,...meu amor.
photo: kiko nazareth
O Sentimento e a Mentira
O sentimento era assime eu já nem sabiadescrevê-lo.Eu era profundo sofredormas não sofria,você, meu amor,inexistia.E agora, o inevitável prosseguimentodaquele deste amor,senão o esquecimento,a dor.Defendo-me graciosamentee admito o perdedor magnífico,porque hábil e necessário, porquemaravilhosamente atingido.Não posso me abrir afinal,não sei se haverá o fimdo confronto,...sei havê-lo.Quando tudo se repete,a forma cambia magicamente.A mentira era essae eu já nem sabiacontá-lade forma coerente.
photo: Kiko Nazareth
O Sentimento e a Mentira
photo: Kiko Nazareth
N A D A
mudar,modificar,refazer,nossas vidas, lá.aqui, eu transformo,mas onde ficamos,como e durmo.Jogo o pão mofado fora,tomo o café,...não sinto,não sinto nada.É tarde,na cama, saudades,mesmo com você do lado,e um medo faz-se choro,amar tanto é pecado...mas mudar,modificar,enlouquecer,individualmente,já não seise você sentecomo eu,nada...,nada.
frame from cameo by Kiko Nazareth
C U L P A
O OLHO NEGRO DE UM PÁSSARO INOCENTE,
PRÁ LÁ E PRÁ CÁ,
É A INQUIETAÇÃO QUE A FALTA DE NOTÍCIAS DÁ,
É A AFLIÇÃO PELA CULPA, TÃO INTENSA E MÍOPE;
AGORA VOCÊ ACREDITA
QUE PRECISA SENTIR,
A MESMA DOR E SOLIDÃO,
DE QUEM,
SENTE CULPA, TAMBÉM.
D
e
s
c
u
l
p
a
s
No topo da escada,a escuridão;no seu coração,luz para trevas que me cobrem;seu rostotraz as coresde todas as minhas fantasias...,toquei seu destinosó para verminhas pegadas,ouvi desculpas tardias.Essa canção existepara fazer-nos perecer;esse ritmo, essa letra,tudo por você, por você...Um dia meu amor virá,com cores redentoras,rosto descoberto,destino incerto...
photo: Kiko Nazareth
QUEM
O olhar breve, breve,
o tempo que guardou as manchas
no seu coração deve ser
também, o olho por cima desse vulcão
observando as partículas das cinzas, até
encontrarem o chão...
Leve, leve
daqui essas memórias,
essas cicatrizes, que hoje deixam sua lição,
que desenterra quem sempre se atreve
a descer pelo mesmo confuso vão.
TEU CHEIRO Como eu desejei ter ouvido,Antes do tempo,Das mágoas, da traição ardida,Quando teu peso foi soterrador,Quando teu sopro foi quente,exterminante, quando meu túnelse fechou,no fim de uma vida a dois...Como desejeique tivéssemos morrido,Como quis ter sido,o que jamais serei...Alguém um dia me disse,soprou no meu ouvido um cheirobom, de macho, de fêmea, emisturados, dava no teu...
Maria (para a minha avó Maria)
Deus não mora só no céu, e reconhece
todo o tipo de fé, fervor e desvelo,
sente pena de quem não tem
respeito por todo e qualquer passageiro...
Todo canto esquecido pode tera sorte de estar em nossa trilha,todo tecido com sua trama,todo mar com sua ilha, que se chama Maria;
De seus arquipélagos vem o vinho dos poetas,
nascem reis, é de onde escorre o mel.
Lá, Deus sabe ser divino, inteiro, vivendo
ora, como peregrino viageiro, ora, como ilhéu.
photo: kiko nazarethphoto: Kiko Nazareth
frame from cameo
by Kiko Nazareth
C U L P A
O OLHO NEGRO DE UM PÁSSARO INOCENTE,
PRÁ LÁ E PRÁ CÁ,
É A INQUIETAÇÃO QUE A FALTA DE NOTÍCIAS DÁ,
É A AFLIÇÃO PELA CULPA, TÃO INTENSA E MÍOPE;
AGORA VOCÊ ACREDITA
QUE PRECISA SENTIR,
A MESMA DOR E SOLIDÃO,
DE QUEM,
SENTE CULPA, TAMBÉM.
e
s
c
u
l
p
a
s
QUEM
O olhar breve, breve,
o tempo que guardou as manchas
no seu coração deve ser
também, o olho por cima desse vulcão
observando as partículas das cinzas, até
encontrarem o chão...
Leve, leve
daqui essas memórias,
essas cicatrizes, que hoje deixam sua lição,
que desenterra quem sempre se atreve
a descer pelo mesmo confuso vão.
TEU CHEIRO
Como eu desejei ter ouvido,
Antes do tempo,
Das mágoas, da traição ardida,
Quando teu peso foi soterrador,
Quando teu sopro foi quente,
exterminante, quando meu túnel
se fechou,
no fim de uma vida a dois...
Como desejei
que tivéssemos morrido,
Como quis ter sido,
o que jamais serei...
Alguém um dia me disse,
soprou no meu ouvido um cheiro
bom, de macho, de fêmea, e
misturados, dava no teu...
Maria (para a minha avó Maria)
Deus não mora só no céu, e reconhece
todo o tipo de fé, fervor e desvelo,
sente pena de quem não tem
respeito por todo e qualquer passageiro...
Todo canto esquecido pode ter
a sorte de estar em nossa trilha,
todo tecido com sua trama,
todo mar com sua ilha, que se chama Maria;
De seus arquipélagos vem o vinho dos poetas,
nascem reis, é de onde escorre o mel.
Lá, Deus sabe ser divino, inteiro, vivendo
ora, como peregrino viageiro, ora, como ilhéu.
photo: kiko nazareth
photo: Kiko NazarethO AMOR
e como um mapa
ele vem marcando meu existir,
a ilusão do envelhecimento,
do rejuvenescer,
a concepção,
o morrer,
o risco de um lápis...
um odor e,
tão violentamente como quando acordo,
a luz, a vida, e a dor;
e ele vem mostrar mais,
sinto a chuva, agora,
sem culpa, e esse pulsar sob a carne,
esse peso sobre meu corpo, essa rispidez amorosa, lembranças
de
risadas no meio da manhã, quando as sombras são sagradas,
e esse dia a dia, esse trivial ato, plantar e molhar,
no meio do quintal, onde trabalha-se pela noite
a colher velozmente.
No abrir e fechar das pálpebras do sol ,
transforma-se o vão do amor
em renovada anunciação matinal.
ARMÁRIO
Era o grito do desconhecido,
No meio da vida da madrugada,
A exterminar sonhos,
E arruinar manhãs,
A rua ensanguentada, outro desfecho esperado,
Podia ter sido você, um vizinho,
E um vizinho é quase você,
Um parente é quase você, mas o medo, o medo
Carrega seu peso, nas suas costas exaustas,
Para dentro de um armário sem portas,
E lá, se esconde uma outra versão de você.
Numa vida de ruas tortas e esquinas mal frequentadas,
Estradas sombrias, canções ao longe, sobrou mais nada,
Casamentos de quase desconhecidos e batismo de crianças,
Uma festa aqui, uma missa ali, e o carro do tempo
Não demora passar, para por fim, levar as esperanças;
o oposto de que eu queria
Enquanto o elevador não chega, passam
Os valores imensamente pequenos, pela minha cabeça,
Passa muito do que tememos,
E sobre tudo de novo, que sabem todos,
Os vizinhos, e cidadãos, celulares nas mãos,
Um exército que lê, sobre tudo e decifra,
Nega, espiona, e já não toleramos,
Encerramo-nos,
De olhos fechados, ouvimos.
Adivinhamos o que nem vimos,
Não somos assim, repetimos, mas somos,
Viajantes perversos,
Cúmplices e vítimas sem piedade,
Em cidades gigantescas,
Prédios-espaçonaves, com monstros de verdade,
E eles querem nos pegar.
Querem roubar nossas mochilas patéticas,
Com engenhocas de futuros
Colecionadores de relíquias de leilões virtuais.
Aprendemos novos truques urbanos,
Anos de estratégias e táticas,
Palavras novas, ressoantes, eufemismos,
Redefinimos vícios, escândalos, mentiras,
Torcemos por coisas piores,
Entupidos de novidades, que não vão sobreviver,
Até a manhã seguinte.
E a mania de esquecer de escovar
os dentes antes de dormir,
Ultrapassar noites escaldantes, a insônia,
E de novo, a manhã sem remédio,
O empobrecimento degradante da vida;
A cidade poluída, envelhecida, envenenada,
Sem esperanças para sustentar sonhos,
Valores exorbitantes, impagáveis,
Todos prestes a ser despejados de seus esconderijos.
Registro da náusea indesejável, o medo,
E ele exala um odor do esgoto, nada turístico;
Não obstante, persiste um sono doloso, pecaminoso,
A receita para a rotina que odiamos,
o oposto de tudo que queríamos.
Sensação de abandono. Mas,
O elevador chega, afinal, interagimos,
O rosto conhecido e eu.
Ufa, meu andar, enfim!
O provável vizinho sorri, se despede de mim.
em renovada anunciação matinal.
ARMÁRIO
Era o grito do desconhecido,
No meio da vida da madrugada,
A exterminar sonhos,
E arruinar manhãs,
A rua ensanguentada, outro desfecho esperado,
Podia ter sido você, um vizinho,
E um vizinho é quase você,
Um parente é quase você, mas o medo, o medo
Carrega seu peso, nas suas costas exaustas,
Para dentro de um armário sem portas,
E lá, se esconde uma outra versão de você.
Numa vida de ruas tortas e esquinas mal frequentadas,
Estradas sombrias, canções ao longe, sobrou mais nada,
Casamentos de quase desconhecidos e batismo de crianças,
Uma festa aqui, uma missa ali, e o carro do tempo
Não demora passar, para por fim, levar as esperanças;
o oposto de que eu queria
Enquanto o elevador não chega, passam
Os valores imensamente pequenos, pela minha cabeça,
Passa muito do que tememos,
E sobre tudo de novo, que sabem todos,
Os vizinhos, e cidadãos, celulares nas mãos,
Um exército que lê, sobre tudo e decifra,
Nega, espiona, e já não toleramos,
Encerramo-nos,
De olhos fechados, ouvimos.
Adivinhamos o que nem vimos,
Não somos assim, repetimos, mas somos,
Viajantes perversos,
Cúmplices e vítimas sem piedade,
Em cidades gigantescas,
Prédios-espaçonaves, com monstros de verdade,
E eles querem nos pegar.
Querem roubar nossas mochilas patéticas,
Com engenhocas de futuros
Colecionadores de relíquias de leilões virtuais.
Aprendemos novos truques urbanos,
Anos de estratégias e táticas,
Palavras novas, ressoantes, eufemismos,
Redefinimos vícios, escândalos, mentiras,
Torcemos por coisas piores,
Entupidos de novidades, que não vão sobreviver,
Até a manhã seguinte.
E a mania de esquecer de escovar
os dentes antes de dormir,
Ultrapassar noites escaldantes, a insônia,
E de novo, a manhã sem remédio,
O empobrecimento degradante da vida;
A cidade poluída, envelhecida, envenenada,
Sem esperanças para sustentar sonhos,
Valores exorbitantes, impagáveis,
Todos prestes a ser despejados de seus esconderijos.
Registro da náusea indesejável, o medo,
E ele exala um odor do esgoto, nada turístico;
Não obstante, persiste um sono doloso, pecaminoso,
A receita para a rotina que odiamos,
o oposto de tudo que queríamos.
Sensação de abandono. Mas,
O elevador chega, afinal, interagimos,
O rosto conhecido e eu.
Ufa, meu andar, enfim!
O provável vizinho sorri, se despede de mim.